domingo, 4 de janeiro de 2009

Memórias, segunda parte

(continuando......)

- Calma Soldado. Nada na vida é permanente - Falou o Tenente

- Como é? Nada na vida é permanente? Então me diga como um homem pode permanecer na vida sozinho, sem que ninguem queira olhar para ele como um possível companheiro? Como uma pessoa que teve uma perna amputada pode correr como uma criança logo quando aprende a andar? Como uma pessoa fadada a ajudar todos, até os que jamais mereceram sequer foi ajudado e tem que aprender a conviver sozinho...me diga se isso NÃO É PERMANENTE! - Disse o Soldado

- Permanente é alguem achar que vai ficar assim por toda a vida - Falou o Tenente

- Mas como não ficar? Me diga, Tire-me essa dúvida, faça meu destino acontecer.... - Falou o Soldado

- Fazer seu destino acontecer não depende de mim. suas ações fazem por merecer...- Respondeu o Tenente

- É? Sério mesmo?.....É pra rir ou chorar? É pra pensar em continuar a viver ou a me suicidar nesse exato momemto?  - Gritou o Soldado

- Calma.....também não é assim....Vamos ter um pouco mais de paciência, ok? Sei que você é uma pessoa capaz de retirar agua de pedra, só que tudo tem seu preço. - Falou o Tenente

- Ser bom demais é o mesmo que viver para sempre tendo um rótulo de apenas bom amigo, o mais fofo, o brother.........Estou cansado desses rótulos. Estou cheio ao ser o ultimo dos lembrados que são bons demais para um algo mais com alguma companheira... Estou farto dessa vida. Estou farto de fazer os outros sorrirem quando eles sequer importam se meu sorriso é triste. - Desabafou o Soldado.

- Eu compreendo o que é isso em sua vida. Nada nessa vida é fácil. Tudo é questão de luta. Quando você tomou um tiro, parou de lutar? Quando você deve sua perna gravemente ferida, parou de andar? Quando você teve seu braço atingido, parou de atirar? Não. Se você deixa-se por vencido, nada irá acontecer de bom em sua vida - Falou o Tenente

- Sabe, apesar de estarem tristes, grandes homens jamais deixaram de construir atitudes que marcaram não só a vida, mas a humanindade também. Apenas queria que alguem me abraçasse como eu sempre sonhei quando eu mais precisasse e quando eu sequer tivesse desejando, que viessem, me abrace, pra que eu saiba que jamais estarei sozinho no meu caminho. - Respondeu o Soldado

- Seu caminho ainda é muito longo para terminar aqui num quarto de hospital. E seus familiares? - Perguntou o Tenente

- Porque você acha que estou servindo a vocês? Quando não se tem mais ninguem a quem recorrer. Não tenho mais ninguem para me amar, portanto, resolvi me tornar uma pessoa menos humana, igual a vocês, só que eu, acabei observando inicialmente o que vocês faziam, massacrando a todos ao seu redor com comentários que sequer valeriam a pena de escutar. Resolvi fazer o contrário. Resolvi dar uma chance para quem merece de verdade, para quem eu olhava e poderia pereber que existia algo de bom em seu coração. - Falou o Soldado

- É bom saber que existem pessoas humanitárias dentro na nossa corporação! - Respondeu o Tenente

- É, mas até quando eu irei aguentar ser cristo.....Nem eu sei dizer! - Retruncou o Soldado

(continua)

Música da reflexão: O mundo anda tão complicado/Legiao Urbana

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Memórias 1

Mais um dia da minha sonolenta, pacata e sem alguma motivação, chamada vida tinha se passado. Certamente que, as pessoas que inventaram os hospitais, esqueceram de preparar um café-da-manhã mais saboroso. Isso não é comida e sim uma papa. Como eu poderia começar o dia com algo que mais parecia nojento? 

Nem consegui comer meu café. Minha fome tinha sumido, desaparecido, escafedeu-se. 

Olhava pra janela e procurava apreciar o sol, mas queria muito mesmo entender o porque dele brilhar tanto, sendo que era único. Do nada começou uma pequena chuva e percebi que era somente no local onde eu estava. Novamente fiquei curioso pra saber o motivo de só ter uma nuvem para chover, enquanto o dia estava totalmente ensolarado.

Eram 9 da manhã. O curativo por onde a bala tinha penetrado estava começando a cicatrizar, mas eu não poderia me movimentar bruscamente ou alterar meu estado emocional apesar de que, ele já estaria completamente abalado.

Eram 10 anos de serviço, onde nos ultimos 8 servi para fazer o trabalho "sujo" onde nenhum soldado que carregasse uma arma pudesse demonstrar compaixão. Onde nenhum soldado seria capaz de demonstrar qualquer sorriso para uma pessoa totalmente desarmada e carente na vida. Queria muito ajudar, mas muito mesmo, só que outros queriam resolver os problemas existentes de uma maneira mais rude.

Sempre achei que uma conversa franca, olhos nos olhos com palavras que possam desarmar as pessoas, mostrar o quanto ainda somos bons e que devemos acreditar sempre no nosso poder era nosso maior poderio armado. Contra um revolver ou uma Ak-45 ou uma Bereta qualquer palavra nossa se tornaria a sentença de morte.

Cada missão, cada gota de sangue derramado tinha um significado maior para mim, mas para os outros que davam as costas, pouco significava. Eles tinham os lares deles, onde toda sua frustração era descarregada. Onde toda sua tristesa era friamente posta em maos prontas para descarregar as armas.

Eu estava pensando o que levaria um ser humano a ir contra o que pensa, o que gosta de fazer e ainda mais, contra o que quer para a sua felicidade. Status é o nome mais correto para definir o que essas pessoas buscavam. 

Já eu, sempre procurei fazer algo que tivesse alguma razão, algum motivo real e sensato para continuar a minha missão, servindo minha pátria e assim por diante, continuar a caminhar pela estrada desconhecida chamada VIDA.

Do nada a porta se abre e era o Tenente.

- Como passou a noite?

- É mais fácil perguntar se minha sombra falasse. A resposta seria a mesma! - Falei

- Você não tem motivos para me agredir dessa maneira! - Falou o Tenente

- Quem faz o único trabalho decente e tem que conviver observando que seus problemas são pequenos diante do problema dos outros e mesmo assim só sabe fazer os outros felizes esquecendo-se da sua própria vida tem motivos pra sorrir sozinho? Eu acho que não......


(continua....)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Memórias - Introdução

Após a saida do Tenente, muitas coisas vieram a tona em minha cabeça. Minha infância, adolescencia, festas de familia, amigos, amores e muitos outros.....

Não consegui pensar deitado, então, resolvi levantar, apesar das recomendações de ficar deitado e repousando, mas resolvi ir até a janela. Olhei muitas coisas, como as ruas iluminadas, carros cheios de pessoas, como por exemplo marido e mulher, pai, mãe e seus filhos, namorados e amigos comemorando ou até pessoas saindo do trabalho e indo para seu lares.....

É de um lar que eu preciso, eu necessito, mas até quando eu serei sozinho?

Puxei uma cadeira e sentei a beira da janela. Olhava a quantidade de luzes e as cenas dos prédios ao redor. Tinham uma familia jantando em plena paz e harmonia. Em outra, tinha um pai conversando com um filho que estava chorando. Percebi que algo estava acontecendo, mas o pai da criança saberia como contornar a situação. Em outra, vi duas amigas se preparando para sair, toda hora se olhando no espelho e provando roupa, vendo como ficaria melhor seu cabelo e outros mais. O mais interessante foi ver dois velhinhos juntos, abraçados na sala assistindo a televisão como se fossem dois jovens que estivessem em inicio de namoro.

Senti saudades dos meus pais que se foram muito cedo, da minha familia que se destruiu pouco-a-pouco, dos meus amigos que se afastaram do nada e do meu "possível" amor, que não foi a pessoa capaz de me compreender, suportar e aturar, apesar dela ainda me amar incontrolávelmente. Ela bem sabe disso e percebo que ela chora todas as noites quando relembra do que fui capaz de fazer para demonstrar o que eu sentia por ela, que foi algo muito verdadeiro.

Chegou a doer meu coração. Senti falta de um amor puro assim. Eu já havia tido algo dessa maneira, mas, prefiro não lembrar....

Resolvi olhar para o céu e notei que existiam mais estrelas que o normal. Pensei comigo mesmo que para cada pessoa boa que existisse na terra, sempre haverá uma estrela brilhando cada vez mais.

Pensei nas minhas atitudes ultimamente. Em cada missão que eu cumpri e como consegui fazer de modo que ninguem precisasse pagar por algo que jamais queria que acontecesse. Pensei nos primeiros tiros que dei, no meu acesso de fúria e total descontrole por causa da minha febre.

Passei a mão no meu coração e percebi um pequeno buraco que ficou por causa do tiro. Essa será para sempre uma sequela que levarei comigo por toda a vida para que eu me lembre do que sou capaz de fazer.

Meus olhos resolveram soltar lágrimas.....cheguei a uma conclusão que ser humano algum seria capaz de fazer alguma coisa semelhante ao que fui capaz. Só que eu fui capaz de pagar um alto preço: A SOLIDÃO.

Me senti cansado e resolvi voltar a dormir um pouco para esquecer as minhas dores, pois as dores do mundo, eu era capaz de curar algumas feridas, só que as minhas, ninguem quis aparecer para pelo menos estancar o sangramento.......


[ Música dessa primeira parte: Cartas pra você - NX Zero ]

[ Frase:  As vezes, ninguem é capaz de fazer o que somente nós mesmos fazemos, mas pagamos um alto preço que jamais imaginariamos. ]

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Sacrificios na Vida - ÚLTIMA PARTE

Não conseguia me lembrar de nada. Apenas percebi que eu estava num prédio imenso, onde uma porta estava fechada e eu não conseguia abrir para ver o que se passava lá dentro. Resolvi caminhar para ver o que acontecia nos corredores. 

" A pressão está baixando Doutor. Temos que fazer algo depressa " 

Olhei rapidamente para ver quem estava falando comigo, mas não achei ninguem. Eram muitos corredores, muitas portas e nenhum aviso de nada. Resolvi abrir uma das portas e vi algumas pessoas deitadas nas macas recebendo soro na veia. Pensei comigo mesmo que estava num hospital, mas olhei para meu próprio corpo e nada. Ele estava em perfeito estado.

- Quem são vocês? - Perguntei

- Somos pessoas esperando nosso dia chegar. Sabemos que nossa hora está perto, mas se existe uma possibilidade de viver ainda mais, estamos aqui nesse meio termo. - Disse um dos homens na maca.

Sai na mesma da hora.

" Pressão estabilizada. Vamos iniciar pelo braço e pela perna. Temos que ter agilidade e não podemos sequer demorar. Equipe, ele conta com nossa ajuda! Vamos...."

Novamente olhei para todos os lados a fim de identificar essa voz ou o local onde estaria acontecendo algum fato para o que eu havia acabado de escutar.

Depois de alguns minutos caminhando, eis que me aparece uma figura conhecida. Era Moá. Antes que eu falasse alguma coisa com ele, pude escutar sua voz:

- Queria ter a coragem dele. Queria ter a vontade dele. Queria entender também as razões dele....Ele sim é um homem de atitude, ação e acima de tudo.....tem um grande e forte coração....

Queria ter escutado o resto da frase, mas não consegui escutar......Moá me pareceu ser uma boa pessoa, apesar de existir algo que o retraia, que reprima de ter atitudes quando necessário, mas percebi que chega uma hora em nossas vidas, que nos cansamos de ficar tristes e pensamos em nós mesmos ao invés de pensar nos outros.

Continuei minha longa e ininterrupta caminhada. Eis que encontro as duas irmãs e a criança. Percebi que o elo entre elas estava mais forte do que nunca.

- Tenho que te confessar uma coisa. Esse filho que estou tomando conta é da mulher que seu marido teve um caso. Para te proteger, menti sobre a mãe dele. Seu marido queria muito que você fosse mãe e quando ele estava indo para casa com a criança adotada, como vocês tanto queriam, ele acabou falescendo e me pediu para tomar conta. Você me ajuda? - Disse Cléo

- Claro. Sabe, agora eu entendo o porque de certas atitudes e nossa.....como eu fui muito infantil. Agora que perdi um bem muito precioso do meu coração, tenho que te ajudar a cultivar uma pequena jóia que deus colocou para nos unir e que eu ajudei a salvar, colocando a vida do Soldado em risco......Ele sim é quem merece ser feliz....gostaria de saber realmente o que houve com ele. Tive medo quando ouvi que a arma estava sendo disparada de maneira suicida e sanguinárea. Mas eu compreendo o que se passa com ele e..... -Disse Janice.

Eu ainda estava sem entender nada, quando uma outra voz veio e senti algo estranho.

" Agora vamos para a parte mais dificil. Vamos para o músculo mais forte do organismo. Temos que salva-lo! "

Nesse momento, senti meu coração doer. Foi ai que Jair apareceu e me falou diretamente:

- Caro Soldado. nem sei como eu devo lhe falar isso, mas você tem uma difícil escolha. Você quer viver ou você quer uma paz e esquecer de suas amarguras, sua solidão e ficar perto de quem você jamais queria ter se separado? Não me responda agora. Você tem uma escolha e eu estava te observando durante sua ultima missão para ver se você era capaz de aguentar as dores do mundo, mas percebemos que você é apenas um se humano, dotado de força, coragem, atitude, vontade, paz e que as vezes, quando mexem nas suas feridas, sentimentos como ódio, raiva, vingança e outros mais surgem a tona e acabam diminuindo o que você tem de bom. Nesse exato momento, os médicos estão extraindo duas balas alojadas em seu coração. Se terão sucesso, só nosso amigo lá de cima sabe, mas você tem importante participação em querer viver ou não. Estou indo agora, mas o que acontecer nesse exato momento vai decidir o que você quer.....

" Abrimos o coração.....estamos procurando a primeira bala dentro do musculo. O estrago foi enorme, mas vamos conseguir...."

Eu estava muito perplexo com o acontecido. mas quando vi de costas uma mulher(diga-se de passagem uma linda mulher) chorando sequer pensei em quem poderia ser, mas sua voz me deixou bastante pensativo.

- Por favor, sei que não tenho sido a pessoa que ele sempre quis, mas mesmo assim, não tire a vida de uma pessoa tão boa como ele. Sei que tratei ele muito mal, mas....ele não merece morrer. Posso estar com outro no momento, mas ainda gosto dele, meu coração ainda vai bater por ele, mesmo que nem minha sombra ele queira ver presente. Faça de tudo para tirar as amarguras que ele tem na vida, faça de tudo para que ele seja sempre feliz....eu te peço.....eu irei sumir da vida dele e irei levar comigo por toda vida esse sentimento que foi cultivado desde que eu o tirei de perto de mim e agora, sinto incontrolavelmente algo chamado de SAUDADE.....

" Conseguimos tirar as duas balas. O batimento está estável?"
" Não...temos aqui um caso de parada cardíaca.....Tragam o ressucitador com urgência...vamos, ele não pode morrer"

Nesse momento, percebi que meu coração estava sangrando. Sequer imaginei que eu estava chorando com o coração, pois minhas lágrimas não saiam dos meus olhos e sim sangue......Depois dessa, não queria sobreviver, não queria olhar nos olhos de qualquer pessoa, qualquer mulher e pensar que ela poderia me fazer crer que a vida é mais gostosa de ser vivida, que a vida a dois é perfeita..........

" Perdemos nosso homem....infelizmente...Hora do obito.....00:40"

Nesse momento eu estava no chão, caido. Do nada me aparece a imagem de uma criança sorrindo. Pensei comigo mesmo o que faria essa criança sorrir e pensei: UM HOMEM DE BEM!

Mesmo sem forças, eu levantei. Comecei a caminhar a procura da sala que eu não estava conseguindo abrir.....do nada, senti que algo muito forte estava me puxando....

" Doutor, veja...o coração voltou a bater.......simplesmente é um milagre de deus...deus nos provou mais uma vez que os homens de bem, podem ser poucos, mas eles ainda são imortais...."

De repente, abri os olhos e vi o Tenente do meu lado

- Caro amigo Soldado. Que perigo você nos fez passar, mas descanse. Eu estou aqui faz 3 dias. Temos que conversar sobre sua ficha. Tem coisas que eu preciso saber, mas no momento descanse. Você acordou agora....respire um pouco e olhe tudo a sua volta.

Notei que todos os médicos, e todo o posto de onde eu havia vindo estavam torcendo pela minha recuperação e que eu voltasse a ativa. Só tinha uma coisa de que eu tinha receio: Quando seria minha volta armado.........

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sacrificios na Vida - Penultima parte!

Após o segundo tiro, minha perna infeccionou. Comecei a suar e senti um pouco de febre. Minha calça estava começando a ficar cheia de sangue, quando Janice e Cleo resolveram olhar onde estava a bala.

- Está muito feio. Teremos que abrir também e retirar a bala. Você pode ficar pior. - Disse Janice

- Sabe, se ele tem febre é devido a algum nervo que a bala atingiu. Temos que fazer isso rapidamente. - Falou Cléo.

Só sei que adormeci. Acordei a noite. Estava fazendo frio e isso ajudou um pouco a diminuir minha febre. Moá estava tomando conta da minha pessoa.

- Você está bem? Você suou demais e ficamos com medo. Um homem de nome Tenente disse que estamos perto do local. Ele também falou que o melhor era atravessarmos o vilarejo a noite. Ninguem é maluco de sair a noite por causa do frio, mas isso é um risco que teremos de correr. - Falou Moá.

- Não temos condições de sair agora. Mal mexo minha perna. - Falei.

- Temos sim. Tente mexer sua perna, vamos! - Falou Moá.

Eis que conseguia mexer minha perna. Tentei levantar, mas senti um pouco a falta de apoio nela. Mas conseguia andar. Todos acordaram e iniciamos a caminhada. 

Era noite e fazia bastante frio. Estavamos bastante preocupados com a criança, pois ela poderia estar incomodada com tamanha sensação termica negativa. As ruas estavam muito desertas, mas mesmo assim, estavamos tomando muito cuidado. Eis que do nada o rádio toca.

- Soldado, responda pelo amor de deus!

- Soldado falando, responda Tenente.

- Tenente Falando.....Não saiam a noite. Soldados estão fazendo a ronda. Muito cuidado. Nossos informantes estão a procura de vocês para protege-los e pela tarde, vocês seguem.

- Soldado falando....tarde demais. Iniciamos e vamos terminar o que começamos. Vou desligar senhor!

- Tenente falando.....Boa sorte Soldado!

Mais uma vez o medo bateu. Meu coração apertou e percebi que mais uma vez minha vida estava na reta. Esqueci que minha perna estava muito dolorida e meu braço não estava 100%. Peguei minha arma e sempre que via uma pessoa suspeita, eu atirava como quem tinha absoluta certesa do que estava fazendo. 

Tudo bem que nas outras missões eu sequer atirei uma única vez, mas dessa de agora, percebi que minha vida corria risco e que eu teria que pagar pelas minhas atitudes, portanto esse preço seria pago no futuro.

Todos as pessoas que eram para serem salvas em minha missão, ficaram com medo do que eu era capaz. Eles estavam se perguntando como uma pessoa calma, pacífica e com um grande poder de comunicação poderia realizar uma chassina sem saber quem realmente era bom ou mau.

- Você está bem Soldado? - Perguntou Jair.

- Não sei. Sabe, tem coisas que um homem tem que fazer, mas antes ele tem afastar as pessoas que gostamos de verdade para que tudo dê certo, mas sempre pagamos um preço que jamais gostariamos de pagar. - Falei

- Calma Soldado....Você tomou dois tiros por nós. Agora é a nossa vez de te ajudar! - Falou Moá

- Não. Essa missão é minha. Se alguem tiver que se arriscar, será EU. Vamos. Estamos chegando no ponto.

Faltavam poucos metros para chegarmos no local. Deixei as pessoas numa casa perto e fui a pé para limpar o caminho. Estava tudo tranquilo. Voltei para busca-los. Eles foram na frente e eu estava cobrindo a retaguarda, quando percebi passos. 

- É melhor voltarem de onde estavam. Ou eu atiro. - Falei

- Você é apenas um. Nós somos em seis. Será que você irá nos achar? - Disse uma voz!

- Teste-me e verá. Quer pagar para ver? - Falei.

Os passos sumiram. Percebi que cada um foi para um canto. Minha febre estava voltando, pois eu estava fazendo mto esforço e a perna juntamente com o braço estavam sangrando. Tive que usar minhas técnicas de artilharia para conseguir achar eles.

Só ouvia os passos e dava os tiros de acordo com a sonoridade da pisada. Eu havia pensado que tinha acabado com todos, quando do nada, ouvi uma voz:

- Vai morrer......

POW

Senti que algo passou por mim. Senti que meu coração não estava batendo como antes. Senti que estava pagando um preço pelo qual jamais quis pagar......

Antes de começar a perder os sentidos, só percebi que estavam me levando para um local com uma luz imensa e colocaram algo para que eu respirasse......



quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Sacrificios na Vida - Parte 2

Estava amanhecendo e sequer percebemos que haviamos atravessado um dos 4 caminhos a serem percorridos. Estavamos na metade do segundo e o terceiro era questão de tempo. 

- Alguem sabe que horas são? - Jair perguntou.

- Não sei, mas pelo que vejo da claridade, deve ser umas 6 ou 7 da manhã. Temos que seguir viagem. Já se alimentaram? - Perguntei

- Acho que todos não estão com fome, mas querem estar a salvos e voltar para suas cidades. Ainda falta muita coisa para chegarmos no local de salvamento? - Perguntou Janice

- Estamos na metade do segundo caminho. Temos que atravessar mais 3 ou 4 montanhas e ai, chegaremos num vilarejo que serve de divisão com o pais onde vocês irão se refugiar e esperar a liberação. Se tudo der certo, dentro de poucos dias vocês estarão a salvo! - Falei 

Todos resolveram levantar e seguimos nossa caminhada. O sol estava frio, mas mesmo assim, estavamos vestidos para parecer nativos do local/ambiente. 

As subidas não eram das mais fáceis. Além de serem muito ingremes, tinhamos ainda mais um problema: Cansaço. 

- Minhas pernas estão pedindo descanso. Podemos parar, Soldado? - Perguntou Cléo.

- É melhor continuarmos. Daqui a pouco teremos novidades boas! - Falei

Eis que do nada surge uma voz:

- Soldado, responda. aqui é o Tenente. Qual a sua posição? - disse o Tenente via Rádio.

- Tenente, aqui é o Soldado. Estamos com todos os Reféns a salvo. Estamos indo para a terceira parte do caminho. Alguma recomendação? - Perguntei

- Cuidado. Um grande líder de um povo que luta pela libertação foi assassinado. Ele iria ajudar o seu grupo a chegar a salvo até o ponto de salvamento, mas parece que um bando de beduinos o assassinou cruelmente e eles querem vingança. - Falou o Tenente.

- Certo chefe. Teremos cuidado! Vou desligar - Falei

Fiquei pasmo ao saber que matei uma pessoa que poderia nos ajudar a diminuir o caminho e facilitar a travessia. Pensei até que a missão estaria em risco por minha culpa, mas eu havia sido treinado para situações adversas na vida.

- Atenção a todos. Infelizmente estão a nossa procura. Temos que ganhar tempo. Não iremos perder tempo para comer e dormir. Iremos comer no caminho e com relação a dormir, reduziremos o tempo perdido. - Falei

Percebi que todos chiaram, mas tiveram que concordar.

Faltava apenas uma montanha a ser atravessada para iniciarmos a chegada no vilarejo e posteriormente a procura da saída a fim de adentrarmos na floresta que limita a divisão do pais.
Eis que surge um garoto e vem a minha direção dizendo:

- O que vocês querem nessa terra que não lhes pertence? - Disse o garoto

- Apenas queremos passar. Somos um grupo de viajantes que lutam pela sobrevivência. - Falei

- Garoto, se você tiver um pouco de coragem, você vai nos ajudar a sair daqui. - Falou Moá

- Mais um passo e vocês serão crivados de bala. Para passar aqui, tem que pagar um alto preço.  - Falou o Garoto.

- Qual seria seu preço? - Falei

- Estamos querendo pegar uma pessoa. Ela estaria numa missão de ajudar um grupo perdido a se salvar. Como vocês são viajantes e nativos, acho que não são vocês. Se vocês souberem quem atirou nele, nos deixaremos passar. - Falou o garoto.

- Eu atirei. Ele queria matar esse garotinho sem ver quem era. Atirei por engano. Acabei matando certeiramente - Falei

- Causa nobre....tudo bem, podem passar......e acenarei para dizer que vocês são pacíficos - Falou o Garoto.

Todos estavam mais aliviados com o desenrrolar dos acontecimentos, mas como tudo na vida tem seus poréns, eis que chega uma pensagem enviada por um falcão do deserto

"Grupo parecido com nativos matou o lider do grupo da libertação. Quem mata-lo, terá uma boa recompensa. Quem souber onde ele está, terá direito a um ministério no novo governo"

Estavamos começando a ver o vilarejo, quando do nada, escutei um tiro. Continuei caminhando quando senti uma forte dor aguda na perna. Olhei para o chão e vi algo vermelho na terra. Desmaiei no mesmo instante.

Do nada, o mesmo garoto de antes aparece e diz:

- Você mentiu. Iria passar limpo e receberia ajuda para seu objetivo, mas esse é o preço que você terá que pagar para completar sua missão.

- E atirar pelas costas é o que vocês fazem? - Perguntei

- Não, mas você traiu nossa confiança e vai ter que levar essa marca consigo por toda vida. Essa bala sairá facilmente da sua perna, mas ela certamente vai deixar uma cicatriz imensa.

Mal conseguia me levantar. Tive que retirar a bala a força(e bote força nisso, pois doeu muito) e esperar o sangramento sanar para continuar a descida. Na primeira casa do vilarejo que vimos, entramos e resolvemos parar para descansar.

Foi ai que minha febre iniciou.........

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Sacrifícios na Vida - Parte 1

.......

Estava começando a amanhecer. 

Estavamos caminhando muito devagar, pois o sol estava a todo vapor e eram apenas 8 da manhã. Todos estavam usando roupas brancas que mais pareciam beduinos do deserto. Enquanto eu ia na frente garantindo que o caminho estivesse seguro e livre das minas terrestres, animais do deserto e saqueadores que aparecem pelo caminho. 

Era a hora do almoço e eu estava começando a retirar a comida desidratada para que todos fossem satisfazer sua fome.

- Alguma das duas mulheres terá que amamentar o garoto! - Falei com ambas

- Ah, mas eu que não irei. Não irei me responsabilizar por nada com relação a esse pirralho. Ele sequer é meu filho. Boa sorte Cléo! - Falou Janice

- Ninguem aqui falou nada minha irmã. Eu tenho leite sim. Ele conseguia sugar alguma coisa enquanto esperavamos o Soldado. - Cleo Falou.

- Ok. Cleo, como você está amamentando e eu me alimentei antes de chegar até vocês, pode ficar com um pouco da minha água e com toda minha comida. Fui treinado para aguentar coisas muito piores. - Disse o Soldado.

Enquanto isso, os outros dois (Moá e Jair) estavam calados e observando atentamente como Cleo pegava a criança no colo e o amamentava. Mais parecia que ela era a mãe. Ela esboçava um cuidado, um afeto e um carinho totalmente inesperado para o momento que chegou a contagiar a quase todos, menos sua irmã.

- Menina, você ainda tem muito que aprender nessa vida. Você foi traida pela sua melhor amiga e agora....

- Procure seu lugar. Se você não teve peito para proteger quem você gostava, e acabou perdendo ele em nome da sua vida, não faça julgamento sobre a vida de uma criança que estou lutando para salvar. Quem é você para falar de um garoto que teve a vida salva pela mãe e a mesma pediu que eu cuidasse dele como se fosse meu filho? - Cleo respondeu furiosa

- Desculpe....(chorando)....Eu nunca iria conseguir ser igual a você.... - Falou Janice

Quando percebi a cena que estavamos criando, notei que o vento que vinha da direção norte estava vindo com um desvio muito esquisito. Pensei que estavamos sendo vigiados e seguidos.

- Vamos todos. Temos que seguir viagem AGORA! - Falei.

Todos enterraram os resto da comida desidratada e começaram a caminhar.

- Andem no sentido contrário a sombra de vocês. Se a sombra está nas costas, andem SEMPRE RETO.

Eis que o grupo começou a correr. Apenas eu fiquei atras para ver quem poderia vir e querer atrapalhar minha missão. Do nada surge um homem com uma roupa bege e apontando uma arma para o chão.

- O que você tem nesse saco, forasteiro? - Perguntou o homem da roupa bege

- Sei lá. Mas o que você quer de verdade? - Perguntei

- Eu? Deixe-me ver.........

Nesse momento, eu consegui sacar minha arma e apontar para ele.

- Quer brincar de faroeste? É melhor você ir andando.....deixe esse saco comigo e volte com o seu vento....... - Eu falei

- Quero o que tem no saco...... - Disse o homem

Estavamos um observando o outro, mas por coisa rápida de momento, percebi que o homem apontou para o saco e antes que ele disparasse, me joguei em direção ao saco. O homem de roupa bege atirou no saco, mas a bala pegou em meu braço, só que antes que eu caisse no chão, dei meu primeiro tiro e foi fulminante na cabeça do homem.

Pensei que eu nunca fosse capaz de fazer isso. Sempre pensei que a conversa e usando os meios pacíficos, eu conseguiria mudar um pouco a dinâmica do mundo, mas percebi que FUGIR DE RESPONSABILIDADES NUNCA SERÁ O MELHOR REMÉDIO.

Meu braço estava sangrando por causa do tiro, mas consegui fazer um curativo e muito mal, mexia meu braço, mas por sorte, não foi o que eu usei para atirar.  Me virei para ver o que tinha no saco e me deparei com uma cena incrível. Janice estava protegendo a criança.

- Quando percebi que a criança não estava com Cléo, voltei correndo. Percebi que o homem estava mirando no saco, mas muito devagar eu retirei o bebê e coloquei outra coisa. Foi tudo muito rápido mas ele está bem......Sabe, tenho meus segredos e entendo o que a Cléo fez, portanto, quero que você carregue ele e entregue para ela. - Disse Janice.

- Não posso. Tenho apenas um braço que consigo movimentar numa boa. O outro, tomei um tiro e mal mexo com ele. - Falei.

- Um momento, deixe-me ver... - Disse Janice.

Nesse momento, ela enfiou o dedo para ver até onde a bala havia perfurado. Eu estava urrando de dor. Do nada ela apertou meu braço e a bala saiu. Depois, ela pegou um lençol e me disse:

- Daqui a 3 ou 4 horas, você pode movimentar ele numa boa. Guarde sua arma. Achamos uma caverna para passar a noite. Vamos pois uma tempestade de areia está por vir. - Disse Janice

- Vamos sim! - Falei

A imagem de Cléo ao ver que a criança estava em meus braços, foi de sensibilizar o coração de qualquer pessoa. Todos estavam muito cansados e eletricos com o momento. Apenas percebemos que cada um fechou os olhos devagar e resolvemos dormir até o outro dia.