quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Memórias 1

Mais um dia da minha sonolenta, pacata e sem alguma motivação, chamada vida tinha se passado. Certamente que, as pessoas que inventaram os hospitais, esqueceram de preparar um café-da-manhã mais saboroso. Isso não é comida e sim uma papa. Como eu poderia começar o dia com algo que mais parecia nojento? 

Nem consegui comer meu café. Minha fome tinha sumido, desaparecido, escafedeu-se. 

Olhava pra janela e procurava apreciar o sol, mas queria muito mesmo entender o porque dele brilhar tanto, sendo que era único. Do nada começou uma pequena chuva e percebi que era somente no local onde eu estava. Novamente fiquei curioso pra saber o motivo de só ter uma nuvem para chover, enquanto o dia estava totalmente ensolarado.

Eram 9 da manhã. O curativo por onde a bala tinha penetrado estava começando a cicatrizar, mas eu não poderia me movimentar bruscamente ou alterar meu estado emocional apesar de que, ele já estaria completamente abalado.

Eram 10 anos de serviço, onde nos ultimos 8 servi para fazer o trabalho "sujo" onde nenhum soldado que carregasse uma arma pudesse demonstrar compaixão. Onde nenhum soldado seria capaz de demonstrar qualquer sorriso para uma pessoa totalmente desarmada e carente na vida. Queria muito ajudar, mas muito mesmo, só que outros queriam resolver os problemas existentes de uma maneira mais rude.

Sempre achei que uma conversa franca, olhos nos olhos com palavras que possam desarmar as pessoas, mostrar o quanto ainda somos bons e que devemos acreditar sempre no nosso poder era nosso maior poderio armado. Contra um revolver ou uma Ak-45 ou uma Bereta qualquer palavra nossa se tornaria a sentença de morte.

Cada missão, cada gota de sangue derramado tinha um significado maior para mim, mas para os outros que davam as costas, pouco significava. Eles tinham os lares deles, onde toda sua frustração era descarregada. Onde toda sua tristesa era friamente posta em maos prontas para descarregar as armas.

Eu estava pensando o que levaria um ser humano a ir contra o que pensa, o que gosta de fazer e ainda mais, contra o que quer para a sua felicidade. Status é o nome mais correto para definir o que essas pessoas buscavam. 

Já eu, sempre procurei fazer algo que tivesse alguma razão, algum motivo real e sensato para continuar a minha missão, servindo minha pátria e assim por diante, continuar a caminhar pela estrada desconhecida chamada VIDA.

Do nada a porta se abre e era o Tenente.

- Como passou a noite?

- É mais fácil perguntar se minha sombra falasse. A resposta seria a mesma! - Falei

- Você não tem motivos para me agredir dessa maneira! - Falou o Tenente

- Quem faz o único trabalho decente e tem que conviver observando que seus problemas são pequenos diante do problema dos outros e mesmo assim só sabe fazer os outros felizes esquecendo-se da sua própria vida tem motivos pra sorrir sozinho? Eu acho que não......


(continua....)

Nenhum comentário: