domingo, 4 de janeiro de 2009

Memórias, segunda parte

(continuando......)

- Calma Soldado. Nada na vida é permanente - Falou o Tenente

- Como é? Nada na vida é permanente? Então me diga como um homem pode permanecer na vida sozinho, sem que ninguem queira olhar para ele como um possível companheiro? Como uma pessoa que teve uma perna amputada pode correr como uma criança logo quando aprende a andar? Como uma pessoa fadada a ajudar todos, até os que jamais mereceram sequer foi ajudado e tem que aprender a conviver sozinho...me diga se isso NÃO É PERMANENTE! - Disse o Soldado

- Permanente é alguem achar que vai ficar assim por toda a vida - Falou o Tenente

- Mas como não ficar? Me diga, Tire-me essa dúvida, faça meu destino acontecer.... - Falou o Soldado

- Fazer seu destino acontecer não depende de mim. suas ações fazem por merecer...- Respondeu o Tenente

- É? Sério mesmo?.....É pra rir ou chorar? É pra pensar em continuar a viver ou a me suicidar nesse exato momemto?  - Gritou o Soldado

- Calma.....também não é assim....Vamos ter um pouco mais de paciência, ok? Sei que você é uma pessoa capaz de retirar agua de pedra, só que tudo tem seu preço. - Falou o Tenente

- Ser bom demais é o mesmo que viver para sempre tendo um rótulo de apenas bom amigo, o mais fofo, o brother.........Estou cansado desses rótulos. Estou cheio ao ser o ultimo dos lembrados que são bons demais para um algo mais com alguma companheira... Estou farto dessa vida. Estou farto de fazer os outros sorrirem quando eles sequer importam se meu sorriso é triste. - Desabafou o Soldado.

- Eu compreendo o que é isso em sua vida. Nada nessa vida é fácil. Tudo é questão de luta. Quando você tomou um tiro, parou de lutar? Quando você deve sua perna gravemente ferida, parou de andar? Quando você teve seu braço atingido, parou de atirar? Não. Se você deixa-se por vencido, nada irá acontecer de bom em sua vida - Falou o Tenente

- Sabe, apesar de estarem tristes, grandes homens jamais deixaram de construir atitudes que marcaram não só a vida, mas a humanindade também. Apenas queria que alguem me abraçasse como eu sempre sonhei quando eu mais precisasse e quando eu sequer tivesse desejando, que viessem, me abrace, pra que eu saiba que jamais estarei sozinho no meu caminho. - Respondeu o Soldado

- Seu caminho ainda é muito longo para terminar aqui num quarto de hospital. E seus familiares? - Perguntou o Tenente

- Porque você acha que estou servindo a vocês? Quando não se tem mais ninguem a quem recorrer. Não tenho mais ninguem para me amar, portanto, resolvi me tornar uma pessoa menos humana, igual a vocês, só que eu, acabei observando inicialmente o que vocês faziam, massacrando a todos ao seu redor com comentários que sequer valeriam a pena de escutar. Resolvi fazer o contrário. Resolvi dar uma chance para quem merece de verdade, para quem eu olhava e poderia pereber que existia algo de bom em seu coração. - Falou o Soldado

- É bom saber que existem pessoas humanitárias dentro na nossa corporação! - Respondeu o Tenente

- É, mas até quando eu irei aguentar ser cristo.....Nem eu sei dizer! - Retruncou o Soldado

(continua)

Música da reflexão: O mundo anda tão complicado/Legiao Urbana

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Memórias 1

Mais um dia da minha sonolenta, pacata e sem alguma motivação, chamada vida tinha se passado. Certamente que, as pessoas que inventaram os hospitais, esqueceram de preparar um café-da-manhã mais saboroso. Isso não é comida e sim uma papa. Como eu poderia começar o dia com algo que mais parecia nojento? 

Nem consegui comer meu café. Minha fome tinha sumido, desaparecido, escafedeu-se. 

Olhava pra janela e procurava apreciar o sol, mas queria muito mesmo entender o porque dele brilhar tanto, sendo que era único. Do nada começou uma pequena chuva e percebi que era somente no local onde eu estava. Novamente fiquei curioso pra saber o motivo de só ter uma nuvem para chover, enquanto o dia estava totalmente ensolarado.

Eram 9 da manhã. O curativo por onde a bala tinha penetrado estava começando a cicatrizar, mas eu não poderia me movimentar bruscamente ou alterar meu estado emocional apesar de que, ele já estaria completamente abalado.

Eram 10 anos de serviço, onde nos ultimos 8 servi para fazer o trabalho "sujo" onde nenhum soldado que carregasse uma arma pudesse demonstrar compaixão. Onde nenhum soldado seria capaz de demonstrar qualquer sorriso para uma pessoa totalmente desarmada e carente na vida. Queria muito ajudar, mas muito mesmo, só que outros queriam resolver os problemas existentes de uma maneira mais rude.

Sempre achei que uma conversa franca, olhos nos olhos com palavras que possam desarmar as pessoas, mostrar o quanto ainda somos bons e que devemos acreditar sempre no nosso poder era nosso maior poderio armado. Contra um revolver ou uma Ak-45 ou uma Bereta qualquer palavra nossa se tornaria a sentença de morte.

Cada missão, cada gota de sangue derramado tinha um significado maior para mim, mas para os outros que davam as costas, pouco significava. Eles tinham os lares deles, onde toda sua frustração era descarregada. Onde toda sua tristesa era friamente posta em maos prontas para descarregar as armas.

Eu estava pensando o que levaria um ser humano a ir contra o que pensa, o que gosta de fazer e ainda mais, contra o que quer para a sua felicidade. Status é o nome mais correto para definir o que essas pessoas buscavam. 

Já eu, sempre procurei fazer algo que tivesse alguma razão, algum motivo real e sensato para continuar a minha missão, servindo minha pátria e assim por diante, continuar a caminhar pela estrada desconhecida chamada VIDA.

Do nada a porta se abre e era o Tenente.

- Como passou a noite?

- É mais fácil perguntar se minha sombra falasse. A resposta seria a mesma! - Falei

- Você não tem motivos para me agredir dessa maneira! - Falou o Tenente

- Quem faz o único trabalho decente e tem que conviver observando que seus problemas são pequenos diante do problema dos outros e mesmo assim só sabe fazer os outros felizes esquecendo-se da sua própria vida tem motivos pra sorrir sozinho? Eu acho que não......


(continua....)